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A realidade pode ser vista de várias perspectivas, independentemente dos indicadores económicos, que servem de argumentação bem diferente para uma situação que se mantêm. Apesar de a realidade ser objectiva, tudo é argumentável, quando queremos fazer valer pontos de vista.

Estruturalmente, vivemos num Portugal com dois milhões de pobres, com um índice de envelhecimento de 133,5, com uma taxa de divórcios superior a 70%, com uma taxa de ocupação das prisões de 117% e em que metade dos eleitores não exerce o direito de voto, em especial os mais jovens. Apesar disso, somo mais instruídos: 15% da população tem o ensino superior e só 5% são analfabetos.

Por outro lado, os números conjunturais do desemprego têm vindo a baixar e a situação de decréscimo do PIB parece finalmente invertida.

No entanto, ninguém acredita na capacidade da economia portuguesa em criar emprego. Que crise é que já passou? Não existe poder de compra nem qualquer dinâmica de procura interna que sustente um crescimento real. Os números e os indicadores que servem de “tableau de bord“ para o decisores políticos são de facto realidades exactas, mas para chegar às reduções verificadas nas taxas de desemprego oficiais é preciso ter em conta a diminuição da população, a imigração e a emigração, os “desistentes” e os desempregados a tirar cursos ou a trabalhar para o próprio Estado com remunerações indignas.

Infelizmente, os problemas estruturais da economia portuguesa são os mesmos do período pré-troika: dívida pública acima dos 125% do PIB a par com a continuidade persistente de deficits orçamentais consecutivos, pois a reforma do Estado parece não interessar aos “clientes instalados”.

Se analisarmos igualmente a conjuntura, existe um indicador infalível: com a redução do rendimento disponível das famílias para alimentar o Estado e os seus clientes, através dos impostos, o crédito malparado das famílias e das empresas voltou a subir, atingindo novos recordes: 5.373 milhões de euros (famílias) e 13.064 milhões (empresas). Nas famílias, este valor representa 4,3% do volume total dos empréstimos. Os incumprimentos representam 2,5% na habitação, 10,8% no consumo e 14,9% no crédito para outros fins.
Dos 92.679 milhões de euros de empréstimos às empresas, 13.064 milhões representam crédito mal parado, correspondendo a 14,1% do total.

Não há crescimento nem desenvolvimento sem procura interna (consumo e investimento) e sem a redefinição urgente das funções do Estado, que se adaptem às novas realidades sociais, demográficas e económicas. O balanço da actual legislatura é negativo: o governo soube reduzir a velocidade com que nos vamos dirigindo para o precipício, mas não soube mudar de direcção ou inverter a marcha. O governo deve aprender que governar um país não é só governar o Estado e que só um Estado reconciliado com as novas realidades económicas e sociais, efectivamente regulador, é um Estado forte e eficiente.
 

Miguel Varela – Diretor do ISG | Business & Ecoomics School

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