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Não é fácil iniciar este texto. Por duas razões. A primeira, porque todos os artigos de opinião nestas últimas semanas versam sobre os mesmos temas: i) o Governo deve ser remodelado; ii) o Governo deve cair pela força da rua; iii) o Ministro das Finanças saiu! Pânico! iv) o vice-1º Ministro demitiu-se! Duplo pânico! v) o Governo não pode cair, senhor Presidente da República! vi) a taxa de juro da dívida pública portuguesa sobe para níveis que já não esperávamos ver! vii) nós não somos a Grécia (ou afinal somos!) viii) o Presidente decidiu um governo de salvação nacional a prazo(!). Espero que no tempo que medeie este meu escrito e a sua publicação nada de relevante ocorra (não porque eu tenha medo mas para que o meu artigo não seja publicado fora do contexto).
 
A segunda razão é porque estamos realmente todos preocupados com a situação nacional e internacional e sentimo-nos claramente incapazes de intervir e contribuir para a sua resolução. Todos temos ideias e achamos que essas são necessárias e suficientes. Quando se observa jornalistas a publicar livros sobre as suas ideias para a resolução do problema, extravasando talvez aquilo que é a sua competência e valor como profissionais (e aproveitando certas tribunas poderosíssimas) e quando nesses livros se afirma que grande parte das soluções passam por convencer as instituições da União Europeia a corrigir o rumo e a permitir que se criem condições para protecionismos e apoios que viciem as regras concorrenciais (porque tempos excecionais exigem medidas excecionais, certo?), aí percebemos do que precisamos realmente: de políticos.

E assim deparamo-nos com o maior dos dilemas do comum dos cidadãos. Então mas acreditamos numa democracia mais participativa com tudo o que tem de bom e de mau? Ou precisamos de técnicos competentes que “suspendam algo” durante um determinado período de tempo para que sejamos salvos e retomemos depois o curso do progresso? É mau ter políticos profissionais formados nas Juventudes Partidárias? Queremos Ministros da Economia que conheçam a realidade da gestão empresarial e que têm pouca ou nenhuma experiência política, incluindo da forma como se gerem os dossiês importantes? Achamos que é necessário um líder carismático que nos conduza à posição que julgamos merecer?

Para não me limitar a escrever de uma forma inquisitória, julgo estarmos em condições para reavaliar o que queremos da nossa jovem democracia. Importa estudar os modelos e as formas de colaboração para que os cidadãos possam catapultar as suas energias para a melhoria da sua (e de todos) condição. Devemos olhar para os modelos de participação ativa, como no caso do Estado da Califórnia, onde a (excessiva?) intervenção de cidadania conduziu a uma situação de quase banca rota e onde os modelos de checks and balances por vezes alteram a decisão popular. Devemos escrutinar o que significaria um modelo diferente de formar políticos, com mais ou menos tecnicidade, com mais ou menos retórica, com mais ou menos orçamentos e decisões participadas. Talvez sim, eventualmente para chegarmos à conclusão expressa por Churchill em 1947, após ter perdido as eleições que se seguiram ao fim da 2ª Guerra Mundial, de que “a Democracia é a pior forma de governo, com a exceção de todas as outras formas que foram experimentadas de tempos a tempos”.

Por mim, acho que a semana passada apresentou-nos claros exemplos de política no seu estado puro. É com isto que temos que trabalhar, sempre alerta contra eventuais abusos que ataquem as liberdades fundamentais mas com disposição para perdermos parte dos nossos supostos direitos adquiridos.
Acho que até hoje não escrevi um artigo de opinião neste jornal que tenha tão pouco conteúdo claro e direto e que consista num rol de questões e de exposição de dúvidas. Mas por vezes é necessário, até para que das mesmas surjam futuros projetos de análise e opinião. Haja saúde que assuntos não faltarão certamente!

Carlos Vieira
Administrador ISG

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