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A Europa continua “sentada à espera” que a crise passe. Pelas suas particularidades, a atual situação carece de soluções inovadoras e estruturais, como às vezes discutir-se nos decisores económicos, mas muito, muito, lentamente.

Nos últimos dois anos, os países europeus e as respectivas instituições passaram demasiado tempo a fazer diagnósticos e prognósticos (com erros constantes) e muito pouco tempo em ações concretas, tendentes a solucionar a recessão instalada. Foram apresentadas soluções conjunturais que sucessivamente falharam que se revelaram incapazes de resolver problemas estruturais.

A Europa continua “sentada à espera” que a crise passe. Pelas suas particularidades, a atual situação carece de soluções inovadoras e estruturais, como às vezes discutir-se nos decisores económicos, mas muito, muito, lentamente. Aumentar impostos parece ser a solução dos simplificadores inconsequentes e de quem não pensa além disso, porque é difícil.

As soluções técnicas das políticas económicas tradicionais teimam em não dar resultados. Hoje discute-se muito a perda dos políticos com sentido de Estado ou, pelo menos, com sentido estratégico e reformista. O mesmo será dizer que olhando em nossa volta já não há ideologias, ou, as que existem, estão esgotadas e fazem parte dos livros de história do século XX e que surgiram em contextos históricos muito específicos, de impossível aplicação na Sociedade da Informação em que vivemos. O divórcio cada vez mais sentido dos cidadãos com as instituições políticas, significam isso mesmo. A sociedade mudou a um ritmo alucinante nos últimos 50 anos e as ideologias permaneceram estanques e não se adaptam às novas formas de dinâmicas sociais. Os valores mudaram, os factores produtivos são diferentes, a organização familiar alterou-se, mas as instituições políticas não evoluíram.

Na generalidade dos cursos superiores europeus pós-Bolonha de Economia, com a redução de cinco para três anos de tempo de formação, houve a necessidade de comprimir e suprimir algumas unidades curriculares, cuja importância é hoje fundamental, para que os decisores atuais possam compreender o passado, entender o presente, mas sobretudo projectar o futuro. Falo por exemplo de Estruturas e Sistemas Económicos, disciplina que desapareceu dos planos curriculares das licenciaturas em Economia por toda a Europa. Para se entender as relações entre os agentes económicos, as dinâmicas conjunturais ou as políticas estruturais é fundamental ler autores como Grossman, Neuberger ou Duffy. Nunca foi tão pertinente sublinhar que a economia é uma ciência social e que não é um fim em si. É um instrumento para conduzir as sociedades a um desenvolvimento contínuo e não se esgota em critérios nominais.

Mas esta crise é também uma oportunidade e pelo menos conseguiu despertar o pensamento dos cidadãos para questionar e até filosofar sobre o essencial dos sistemas sociais em que vivemos.

Nunca necessitámos tanto de referências e de verdadeiros líderes como agora. Muito se discute até sobre a Europa, a moeda única, as políticas supranacionais, a democracia, a república ou a monarquia. Tenho aprendido, observando a sabedoria popular, muitas vez no subconsciente, que se vão despertar valores que se julgavam perdidos. Se passearmos pelo país, é tão vulgar vermos o crescente número de automóveis que circulam nas estradas com o autocolante da bandeira azul e branca da monarquia, assim como, vermos, no comércio popular, nomes de estabelecimentos como “Rei dos Frangos”, “Rei das Meias”, “Rei das Farturas”, entre outros reais mercados.

Tudo isto, de facto, faz-nos pensar que o povo, lá no seu íntimo, tem necessidade de reconhecer um líder inato, a tal referência que falta e a devemos respeito pela sua distinção e por aquilo que representa. Ora, pensando novamente em valores, é muito mais sugestivo o azul e o branco, que representam a vocação milenar nacional do “mar” e da “paz”, do que a agressividade do “sangue” (vermelho) e da “esperança” (verde), de quem está sempre à espera de melhores dias…

Numa altura em que questionamos os sistemas económicos e consequentemente, os sistemas políticos, devemos aprender com as pequenas observações do quotidiano. Tomando como exemplo o comércio dos frangos, até agora nunca nenhum comerciante, se lembrou de designar a sua firma como “O Presidente dos Frangos”, ou por este não ser uma referência a seguir, ou talvez por correr o risco de um qualquer “galinácio” menos competente poder ser eleito lá pelo aviário, fruto das circunstâncias ou de sistemas representativos questionáveis.

Miguel Varela, Director do ISG

Business& Economics School

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