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Estamos muito longe (principalmente em Portugal) de conseguir transmitir no tempo de formação inicial dos estudantes os conceitos base que conduzam a um comportamento dito sustentável

Solicitam-me um artigo sobre escolas sustentáveis e a responsabilidade que os jovens têm no estudo destas temáticas (entenda-se como jovens os de espírito aberto e sequiosos de novos conhecimentos e experiências, independentemente da idade expressa nos seus cartões de cidadão). Poderia discorrer sobre ideias genéricas. Mas temos de ir a factos. Que na maioria das vezes são difíceis de substanciar pois não há dados fiáveis e inequívocos. Por exemplo: que alunos procuram informar-se sobre os projetos e os estudos desenvolvidos na instituição de ensino superior que frequentam? E destes quem lê os artigos e relatórios produzidos? Quem me está a ler neste momento? Pergunto isto porque grande parte dos modelos organizacionais que têm como objetivo o desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade apoiam-se em uma ou duas pessoas ou departamentos, com o empoderamento de algum membro da administração, que vão buscando, com base no limitado conhecimento que possuem, desenvolver as ditas estratégias. Estas muitas vezes passam somente pelo cumprimento de regras e de grelhas de avaliação que permitem que as suas instituições entrem em rankings ou índices bolsistas (como o Dow Jones Sustainability Indexes).

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A grande questão que penso ser importante avaliar é o papel das instituições de ensino em geral, e das de ensino superior em particular, no aumento da percepção sobre os vários vetores da sustentabilidade e qual o seu papel no aumento do conhecimento e na difusão dos mesmos. Pois a realidade parece apontar para um conhecimento e divulgação muito escassos em que nenhuns dos elementos considerados fundamentais para um equilíbrio sustentável (a nível económico, social e ambiental) estão a ser lecionados pelos professores.

Na semana em que escrevo este artigo, tive a oportunidade de assistir à apresentação de um trabalho feito por dois estudantes (a Agnieszka, da Polónia e o Barnaby, de Inglaterra) que estiveram a estagiar no Instituto Superior de Gestão, ao abrigo do programa europeu Leonardo da Vinci. Nos três meses que estiveram em terras lusas tiveram a oportunidade de elaborar dois relatórios com uma investigação aprofundada baseada num “benchmark” com dados retirados em grande parte dos conteúdos existentes nos sites das 89 instituições analisadas (das quais 11 portuguesas), sobre o compromisso na educação para a sustentabilidade em escolas de gestão e em escolas focadas no turismo sustentável, em Portugal e no estrangeiro. As conclusões são diversas e deixo aqui alguns aspetos importantes:
• 23% de todas as instituições têm mestrados ou outra formação pós-graduada diretamente em áreas de sustentabilidade (18% no caso das instituições portuguesas);
• 29% têm centros de investigação ou linhas de investigação claramente identificadas como estudando a sustentabilidade (9% no caso das instituições portuguesas).

Assim, estamos muito longe (principalmente em Portugal) de conseguir transmitir no tempo de formação inicial dos estudantes os conceitos base que conduzam a um comportamento dito sustentável. Para podermos chegar a um tempo, como já se passa na maioria dos países nórdicos em que não se fale de sustentabilidade disto e daquilo, pois já não se assume outra forma de fazer as coisas que não de forma sustentável. E em que a sustentabilidade surge mencionada praticamente só como conteúdo de exportação (em termos de serviços e de transferência de conhecimento). E é neste sentido que as instituições de ensino em geral, e as de ensino superior em particular devem iniciar um processo que começará, necessariamente pela formação dos seus dirigentes, do seu corpo docente, de todos os restantes funcionários e consequentemente dos seus alunos.

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