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Com a queda sucessiva e sustentada do preço do petróleo e, consequentemente, de todas as restantes fontes de energia não renovável tenho a clara perceção que estamos num momento de oportunidades únicas. E ao mesmo tipo recria-se o “guilty pleasure” de ver países (ou melhor, pessoas desses países) que anteriormente criticavam o estilo de vida mediterrânico e a nossa incapacidade de crescimento económico (devido a uma suposta falta de produtividade associada a uma suposta vida de feriados e atividade lúdica excessiva) quando BANG! os recursos naturais da Noruega já não rendem tanto como rendiam, a Finlândia já apresenta uma crise de criação de valor com o bloqueio à Rússia e a queda abrupta da Nokia e quando alguns países mais centrais, como o Luxemburgo, se apercebem que a sua competitividade se vai esboroando pela via da harmonização fiscal europeia e pela maior produtividade dos serviços que países como Portugal vão apresentando.

Isto vem a propósito das negociações com Bruxelas relativamente ao OE 2016 que, há data em que escrevo este texto, ainda não estão concluídas. Compreendo os compromissos que o Governo assumiu com os partidos mais à esquerda e só a intransigência que vem da leitura de alguns economistas clássicos (que constantemente referem a sobreposição dos conceitos económicos à política) têm vindo constantemente a colocar nas páginas dos jornais económicos (o Jornal de Negócios incluído) uma visão catastrofista que, ad nauseam, coloca nos píncaros uma austeridade que, comprovadamente, reduziu nalgumas áreas de atividade a capacidade de recuperação económica. Mas gostaria de alertar para os riscos que a gestão política dos partidos à esquerda apresenta. De facto, assistimos a uma recuperação de um conjunto de benefícios que eram concedidos a trabalhadores, pensionistas, utilizadores do SNS, etc. que, no meu entender, vêm agravar um dos gaps mais assustadoramente graves que existe – a diferença entre os jovens que estudam e que entram (ou tentam entrar) no mercado de trabalho e os mais velhos que já lá estão, com os seus direitos adquiridos (uma das expressões que sinceramente mais detesto). E esta diferença apresenta já realidades eleitorais relevantes, com uma participação cada vez menor dos jovens nos atos mais recentes, apesar de um reforço da imagética e do discurso por exemplo do Bloco de Esquerda que, a meu ver, se arrisca a não cumprir aquilo que transmite. De facto não entendo como positivo que se faça um discurso jovem e arejado e que depois se tomem posições “de Governo” que reforcem os famosos e já referidos “direitos adquiridos”. O Partido Comunista já teve o impacto desse comportamento nas recentes eleições presidenciais (e não, não teve a ver com a utilização de uma carinha laroca!). Quero com isto dizer que a ânsia para gerir as decisões em função daqueles que mais votam e dos que já estão instalados apresenta riscos significativos de afastamento de uma das mais bem qualificadas gerações de sempre de Portugal.

A este afastamento pode ainda conduzir ao que se assiste nos países que atrás referi – um aumento da intolerância, da xenofobia de uma agressividade inconsequente e de uma destruição de modelos políticos que se considerariam adquiridos e solidificados desde o fim da 2ª Grande Guerra.

A decisão de por exemplo de passar para Portugal o Web Summit, com os seus gestores a afirmar perentoriamente que Portugal é um foco de atração de talento deve ser vista como uma destas oportunidades. A solidariedade geracional deve inverter-se: os mais velhos têm necessariamente de abdicar do que conquistaram a favor dos mais jovens para que esta onda criativa e empreendedora não seja danificada. As peias que limitam a obtenção de emprego ou que o criam de uma forma precária, bem como as contínuas dificuldades de melhoria da qualificação da população (veja-se o nosso fraco lugar no ranking da liberdade de escolha da escola) têm de ser cortadas. Defendo que a escola deve envolver os alunos nas escolhas políticas e neste sentido que o voto possa ser obrigatório e a partir dos 16 anos de idade. 

O título deste artigo visa um alerta. Que não se criem as condições para que a energia criativa dos jovens seja limitada. Que a escola permita o livre pensamento, não regulado por uma visão estatizante (e porque não dizê-lo, por vezes fascizante). Que as decisões governativas a tomar se foquem mais num modelo liberal (à esquerda, sim, porque não!) e menos num modelo em que o Estado se assume como tutor. No meu entender não tem condições para o ser. Nem eu o quero para mim, nem para os meus filhos.

 

Carlos Vieira

Administrador ISG

(Artigo escrito de acordo com o mais recente acordo ortográfico)

 

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