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(…) Vossa boa atenção não quero fatigar.

Com a moral costumeira vou aqui terminar.

Nunca façam de um monstro a vossa criação,

que tarde ou cedo vai dar complicação.

“O monstro”, de Alexandre O’Neill

Não tem muito a ver, mas vou lá chegar. A nova senha da seleção é não somos 11 somos 11 milhões. Depois já veio meio Governo da Nação dizer: atenção, não são 11 milhões, são 15, pois alguém se esqueceu dos emigrantes. Como diz a juventude: “ganda fail”. Pois em tempos de branding e engagement os marketeers da Federação não perceberam que a maioria dos portugueses é super fã do seu clube e a ligação emocional à seleção é muito menor do que nos querem fazer crer, mas é suficente. E, em segundo lugar, porque hoje em dia se vive de Marcas e a marca Portugal (e Futebol Português) ultrapassa fronteiras (e não me refiro só aos emigrantes). Esqueceram-se dos fãs dos países não europeus, nomeadamente dos membros da CPLP (podia-se fazer um cartaz com 11 atletas desses países a jogar no burgo), dos países que lutaram por chegar ao EURO 2016 que não conseguiram e que podíamos captar para nos transmitir toda a sua energia (mais um cartaz com mais atletas) e com isso promover toda a diplomacia económica. Deixem os portugueses. Esses, desde o brasileiro Scolari já estão conquistados. Vamos é captar todos os outros, da Arménia à Sérvia e fazer os cidadãos desses países, nossos adeptos.

Esta capacidade de pensar pequeno é o que nos distingue muitas vezes (pela negativa, para quem não percebeu a ironia). Nós em grande, pelos vistos só o Estado. Agora parece que descobrimos a pólvora: Os patrões são uns bandidos (então os que têm escolas privadas e pagam salários a trabalhadores e pagam impostos, ui!, do piorio), o empreendedorismo só é giro se for do tipo social e não tarda ainda uns deputados vão querer nacionalizar o restaurante onde eu e uns políticos no ativo (e outros já reformados dessa atividade), mais uns ex-sindicalistas gostamos de almoçar. 

O monstro é aquilo que é. Insaciável, bonito e bem-falante por fora. Medonho por dentro, porque comandado por quem nunca geriu uma empresa, quem nunca teve de prestar avais pessoais para ter um empréstimo, que ficou sem dormir porque não tinha dinheiro para pagar salários ou impostos (demasiadas vezes porque o próprio Estado não cumpre com os prazos negociados). Mas o mais medonho para mim é ver que nós, cidadãos, somos os grandes culpados: adoramos dizer mal dos empresários e dos que procuram criar valor acrescentado, votamos nos partidos que criticamos quando nos governam, ou não votamos porque achamos que os políticos são todos corruptos, temos um discurso permanente de culpabilização dos outros (e nunca de nós próprios). E achamos bem que se construa uma escola pública quando uma privada que já lá estava funcionava bem (desculpem mas não resisti). Concorrência? Como é possível quando o Estado é o maior operador e é o próprio regulador. Estamos mal. Quem mata o Adamastor?

P.S.: então e na música adaptada “Tudo o que eu te dou. Somos Portugal” de Pedro Abrunhosa, troca-se o trecho “por vezes forte, coragem de leão” por “somos mais fortes, coragem, ambição”? Não havia necessidade. Prefiro muito mais o original.

 

Carlos Vieira

Administrador ISG

(Artigo escrito de acordo com o mais recente acordo ortográfico)

 

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