Muitos assuntos foram objeto de debate e discussão em Portugal e nos restantes Estados-membros, sobre o resultado das eleições para o Parlamento Europeu.
Um dos principais temas de análise tem sido os altos valores da abstenção, em especial em Portugal, que foi de 69%. Na verdade, as eleições para o Parlamento Europeu sempre registaram elevados valores de abstenção em Portugal, aliás, em linha com toda a Europa. Mesmo em 2014, esta taxa foi de 66%, em 2009 foi de 63% e em 2004 registou o valor de 62%. Nunca sequer metade dos portugueses votou para estas eleições.
Ainda assim, devemos interpretar os dados de uma forma absoluta e não apenas relativa, pois apesar do aumento da taxa de abstenção, a verdade é que votaram mais portugueses nestas eleições do que nas mesmas eleições em 2014. Votaram 3.314.418 eleitores enquanto em 2014 só votaram 3.283.610 eleitores. A verdade é que se alteraram as regras de recenseamento para os residentes no estrangeiro, o que implicou que o número total de eleitores recenseados passasse de 9.702.657 para 10.786.068. Apesar do número de eleitores residentes em território nacional tivesse reduzido de 9.457.671 para 9.344.498, o número de eleitores residentes no estrangeiro passou de 244.986 para 1.441.570, sendo que nestes círculos eleitorais a taxa de abstenção ainda é maior, cerca de 99%!
Não deixam de ser preocupantes estes valores de desinteresse dos eleitores, muito especialmente junto dos mais jovens. Apesar dos apelos à participação vindos de todos os quadrantes políticos e dos representantes do país, a verdade é que o efeito é praticamente nulo.
Quando confrontados com a intenção ou não de irem votar, é perfeitamente notório nos eleitores uma profunda distância para com as instituições que representam os cidadãos. Se esta tendência é clara quanto aos órgãos de soberania nacionais, mais notória se torna quanto às instituições europeias.
A qualidade da democracia europeia merece uma grande reflexão bem como o papel reservado a cada instituição. As formas de organização institucional e as ideologias tradicionais, herdadas da sociedade industrial, claramente não se adaptaram à nova ordem social global, aos seus problemas e aos seus interesses.
Diretor do ISG – Business& Economics School
Jornal de Negócios a 29/05/2019