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Exercer um cargo de poder não é tão simples quanto aparenta. Nos meandros da autoridade, onde me situo?

12 de Maio, 2023

O tema “Autoridade” é um tema bastante lato que, por si só, daria para escrever uma longa história com diversas abordagens.

A escolha desta abordagem à autoridade, não pretende realçar a formalidade da mesma (especialmente em contexto organizacional), remetendo para um passado recente, mas sim para uma orientação mais individual, na relação que cada um de nós tem com esta mesma autoridade. Deste modo, manterei esta designação, com o intuito de dignificar o seu nome numa perspectiva mais actual e mais carismática.

Derivada do latim auctoritas, termo ramificado para auctor que por sua vez, é derivado de augere, que significa fazer crescer (um paralelismo interessante até para um conceito de liderança), o tópico “autoridade” pode ser um assunto de dor, de desconforto, de inquietação, de imposição (muitas vezes forçada) por muitos que com ela convivem, nas mais diversas áreas de vida e de relação com os outros.

Entre os vários autores que estudaram a autoridade, Max Weber (economista, filósofo e sociólogo), classifica 3 tipos de autoridade: a tradicional (baseada nos costumes e tradições de uma sociedade); a racional-legal (baseada nas leis, regras e estatutos) e a carismática (baseada no carisma, poder intelectual, oratória ou outras qualidades pessoais, ou seja, na qual o poder é adquirido e não imposto ou legislado). Esta última, mais benéfica do ponto de vista da liderança ou até da docência.

Quantas vezes escuto colaboradores a referirem o abuso de autoridade por quem os lidera e/ou, pelo contrário, líderes totalmente desconfortáveis por se verem confrontados com um papel de autoridade que, muitas vezes, não querem exercer nas suas equipas. Quantas vezes escuto pais e mães que comentam que o exercício de autoridade na educação é um momento difícil, embora com o entendimento de algo necessário para um bem maior, a realidade é que impor limites exige um esforço importante. Quantas vezes escuto professores que não sabem quando, onde e como podem exercer a autoridade com os seus alunos…

Isto de exercer autoridade não é tão simples quanto aparenta.

É importante distinguir-se também aqui, o conceito de poder, do conceito de autoridade.

Por poder, entende-se a capacidade que alguns indivíduos detêm para fazer valer os seus interesses, mesmo quando os outros se opõem, isto é, indivíduos que decidem e usam a força como argumento final para serem obedecidos. Por outro lado, a autoridade é o uso legítimo do poder, ou seja, emerge quando um grupo obedece de forma consentida porque reconhece a legitimidade de quem emana as ordens.

A autoridade pode ser ineficaz e pode até haver violação da autoridade, aliás a frequência com que as ordens são desobedecidas é surpreendente. Em boa verdade, a autoridade tem uma premissa subjectiva ou pessoal inerente, que diz respeito à aceitação de uma comunicação como tendo autoridade, ou seja, a decisão é da pessoa que a recebe e a quem a ordem é dirigida.

Atrevo-me a escrever que, deste modo, uma pessoa pode exercer autoridade mesmo não estando num cargo de poder ou pode estar no poder e não ter qualquer autoridade.

Autoridade, responsabilidade e accountability (termo que manterei em inglês) são conceitos que assumem uma relação estreita nas Organizações.

Profissionalmente, se alguém recebe uma responsabilidade, mas com pouca delegação de autoridade, terá dificuldade em ter um bom desempenho, por outro lado, se alguém tiver autoridade, mas com pouca responsabilidade, também poderá levar a um mau uso dessa mesma autoridade. Accountability é, por sua vez, a obrigação criada para o uso da autoridade, a responsabilidade (ou obrigação de responder) pelo desempenho das funções atribuídas. Esta não está dissociada naturalmente das anteriores! Pelo contrário, um líder é normalmente responsável por todas as acções dos grupos sob sua supervisão, mesmo que haja vários níveis abaixo na hierarquia. O próprio colaborador é responsável pelo seu desempenho, pelo seu esforço, pelo seu empenho.

A questão que coloco é: como é que cada um de nós se relaciona com a autoridade, seja no papel de quem a exerce, seja no papel de quem a recebe, em cada um dos cenários que compõem a nossa vida?

Para responder a esta questão, é preciso reflectirmos sobre a nossa identidade. A nossa identidade relaciona-se com processos afectivos (emoções) e cognitivos (o que pensamos e que representação temos de nós mesmos) e nessa identidade estão as nossas caraterísticas físicas, culturais e obviamente, a nossa personalidade.

Na nossa identidade, fabricada desde o nascimento e ao longo dos vários anos dessa construção, incluem-se fortes alicerces que são compostos pelas nossas relações de infância, pelos nossos grupos de pares na adolescência e pela forma como socializamos ou interagimos com os outros na vida adulta. Isto torna-nos únicos indubitavelmente, mas a nossa experiência de vida, também nos traz as mais diversas crenças, racionais ou irracionais que acabam por moldar a interpretação que fazemos de nós, dos outros e do mundo.

Sabendo que o que pensamos, influencia o que sentimos e por sua vez o que fazemos, isto ainda remete para outras questões:

  • O que penso sobre a autoridade?
  • Como me sinto com a autoridade?
  • O que faço perante a autoridade?

Na trilogia: penso – sinto – ajo, estas três questões remetem-nos para uma reflexão pessoal e convido o/a leitor/a a responder às mesmas com papel e caneta. Ao responder, pense em exemplos específicos nos mais diversos contextos.

Para Emanuel Levy, a autoridade é o equilíbrio da liberdade e do poder. Refere-se em muito, a quem somos, como nos relacionamos com os outros, como influenciamos, como nos vemos no papel que exercemos.

Um líder que lidera pelo medo tem medo de perder o poder e estará longe da capacidade de dar autonomia aos seus colaboradores!

E atenção, as novas gerações não valorizam a autoridade formal. Valorizam influência, sob a forma de uma autoridade mais informal, que cria espaço para mais inovação, mais autonomia e também desse modo, um maior compromisso pelos meandros de uma liderança mais inspiradora e positiva.

Porém, não nos enganemos, a autoridade é uma das pedras fundamentais das organizações formais e informais. Uma organização não pode sobreviver sem autoridade. Indica o direito e o poder de tomar decisões, dar directrizes e instruções aos Colaboradores que a compõem.

Para Carl Rogers, a experiência é a autoridade suprema! E em boa verdade, o termo “autoridade” também diferencia e destaca o que designamos de “especialistas de temas/assuntos”, destacando-os como uma autoridade para opinar, para ensinar e por vezes, até decidir. Ouvimos falar de autoridade online, autoridade no Instagram, autoridade na internet, autoridade nas redes sociais, autoridade de marca e tantas outras formas de autoridade, com influência nos seguidores.

Sob o ponto de vista da influência, a probabilidade de sermos persuadidos por alguém que consideramos uma autoridade, é muito maior em comparação com uma pessoa comum. Seja uma autoridade técnica, intelectual ou de competência, uma autoridade formal ou uma autoridade simbólica.

No fundo extrapola-se a autoridade para todos os cantos do mundo e procura-se essa autoridade em todos os domínios, incluindo o domínio do saber.

Seja a manifestação de autoridade por poder, por cargo, por dignidade ou por saber, reforço que a mesma só se exterioriza quando é aceite e quando as decisões são respeitadas.

A aceitação da autoridade por parte do outro é crucial para o exercício da autoridade per si. Esta aceitação da autoridade está sujeita aos factores biológicos, psicológicos e sociais do indivíduo, bem como ao seu propósito pessoal e ao que acredita ser o propósito da organização.

Embora exista uma “zona de indiferença” no limite da qual cada colaborador aceite uma autoridade sem questionar conscientemente, de um modo geral, uma pessoa só aceita uma comunicação dotada de autoridade quando: compreende essa comunicação, de forma clara e credível; quando acredita que é compatível com o propósito da organização; quando acredita que é compatível com o seu interesse pessoal e quando é física e mentalmente capaz de cumprir essa ordem.

Aceitação não é algo que façamos, é algo a que nos permitimos. Reconheçamos também a autoridade sobre nós.

Professora Doutora Susana Alves, Docente da Pós-Graduação em Coaching Executivo e Liderança de Alta Performance do ISG para a Human Resources Portugal

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