25 de Julho de 2007
Alfred DuPont Chandler, o fundador da história empresarial, faleceu no passado mês de Maio, com 88 anos. A sua enorme contribuição para o progresso da disciplina da gestão não pode deixar de ser sublinhada. O seu papel no avanço da disciplina talvez só tenha sido ultrapassado por Peter Drucker, também recentemente falecido.
Partiu de histórias individuais de empresas para através de um processo de indução perseverante criar novos conceitos, depois investidos na análise e no ensino da gestão. Na sua concepção, a função da história empresarial é ajudar à análise da organização a qual deve ser baseada na compreensão do passado.
Criticou o pensamento económico tradicional, em especial a teoria do equilíbrio estático, tendo questionado de forma incisiva a ideia de ineficiência das estruturas oligpolísticas.
Crítico da alta teorização matemática, que julgou não adaptada às generalizações sobre o passado e à abertura de perspectivas sobre o futuro, não deixou de ser utilizador dos resultados da investigação quantitativa, embora não usasse a notação matemática nas apresentações.
Visou explicitamente o processo de evolução e de mudança o que fez a partir do conceito de “managerial entreprise”, pondo, desde o início, no centro da análise a própria disciplina da gestão.
Foi o primeiro titular, em 1970, da cátedra de História dos Negócios na Harvard Business School onde desempenhou um papel fundamental na consagração dos estudos de história empresarial nos curricula daquela escola.
Operou um corte com a história económica tradicional num ambiente intelectual muito hostil em que o interesse pelas práticas empresariais visava sobretudo os aspectos de corrupção e de criminalidade associada às actividades empresariais.
Apesar do trabalho pioneiro de Joseph Shumpeter, com a sua Theory of Economic Development, que nos anos 30 do século XIX ensaia um corte com aquele ambiente pondo em evidência o papel positivo do empresário, Chandler enfrentou uma audiência pouco receptiva à nova abordagem. Para além dos aspectos já referidos, de concepção pouco simpática do empresário, havia uma resistência a usar o exemplo de empresas reais como meio de análise e de ensino. Ainda hoje se verificam resistências – ao contrário de outras áreas como as disciplinas militares ou a ciência política – à utilização da experiência histórica como instrumento de análise e de ensino. (Veja-se a pouca importância que ainda têm as disciplinas de história da gestão e da empresa nos planos de estudo das faculdades).
Autor de vasta bibliografia, não será arriscado avançar que os livros mais importantes são, pela ordem cronológica de publicação: Strategy and Structure (1962), The Visible Hand (1970) e Scale and Scope (1990). Estas três obras foram todas best-sellers e premiadas, sendo Strategy and Structure o primeiro livro de gestão a ganhar o célebre Pullitzer Prize.
Convirá fazer-se uma iniciação ao pensamento de Chandler lendo aquelas três obras essenciais em conjunto e pela ordem indicada. De facto, as três estão estreitamente relacionadas, retomando cada obra as conclusões da anterior. Notarei a seguir o conteúdo principal de cada uma das obras deste conjunto do que se pode considerar o Chandler obrigatório.
Strategy and Structure (1962). Nesta obra tomam-se quatro casos de sucesso da primeira metade do século XX (DuPont, General Motors, Standard Oil e Sears Roebuck) para analisar a relação entre a estratégia e a estrutura empresarial. Generaliza aqui a ideia de que o sucesso empresarial é o resultado da introdução de uma inovação fundamental: a adopção da estrutura organizacional da multidivisão. Este modelo, em que a estrutura segue a estratégia, explica todos os casos de sucesso bem como a predominância das empresas americanas no período estudado.
The Visible Hand (1970). O sucesso da forma multidivisional apresentada em Strategy and Structure exige o desenvolvimento da gestão profissional. Na verdade, aquela forma e a empresa de grande escala obrigam à criação de uma forte hierarquia que só uma classe de gestores profissionais pode dar uma resposta satisfatória. Como resultado deste processo, a separação entre a gestão e a propriedade é notada, com forte simpatia, por Chandler. De posse deste novo o precioso recurso – a gestão profissional – a empresa passa a internalizar as transacções que antes se efectuavam entre empresas independentes, através do mercado, num processo analisado e designado por mão invisível por Adam Smith. No caso agora teorizado por Chandler a mão visível é a gestão profissional que coordena e controla a grande empresa, forma predominante da actividade económica moderna.
Scale and Scope. A gestão profissional, objecto de análise aprofundada na The Visible Hand torna possível, nos casos em que o investimento adequado é efectuado, a produção em grade escala. Na verdade esta só se transforma numa forma superior de produção a partir do momento em que estão disponíveis poderosos instrumentos de planeamento e controle, próprios da gestão profissional.
A sua obra é fundamental em dois campos: 1) Na História da Empresa e da Gestão de que foi percursor e onde ocupa o papel predominante entre todos os autores;
2) Na Estratégia Empresarial disciplina de que foi igualmente precursor.
Revistar a obra de Alfred Chandler é agora obrigatório, não apenas em homenagem à pessoa mas também para relembrar o papel insubstituível da grande empresa nas economias modernas, num momento que tantos ainda persistem em velhas ilusões acerca do que pode ser o papel das PME.
Avelino de Jesus
Director do ISG