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Um estudo recente da Hays e da Oxford Economics sobre a dinâmica do mercado de trabalho e que engloba mais de três dezenas de países, o relatório Global Skills Index 2015, indica que Portugal é um dos países que apresenta maior desequilíbrio entre a oferta e a procura de trabalho. Apesar dos níveis de desemprego elevados, os recursos humanos disponíveis não correspondem à procura dos empregadores, por desadequação de competências, formação e experiência. Esta situação prejudica quer as entidades empregadoras, quer a população desempregada. Portugal está nos cinco piores países em termos de desajustamento entre a oferta e procura de competências, a par com os EUA, Japão, Irlanda e Espanha. A metodologia para chegar a estas conclusões teve por base uma escala individual de 1 a 10 atribuída a cada país que mede as restrições do mercado de trabalho altamente qualificado, analisando os níveis de ensino, flexibilidade do mercado laboral e pressões salariais. Este estudo vem uma vez mais demonstrar a necessidade de organizar devidamente e com uma estratégia coerente, o ensino superior em Portugal. Apesar do investimento feito no ensino superior e o aumento exponencial da percentagem da população portuguesa com qualificações superiores, em especial na última década, caracterizada pelo ensino superior pós­Bolonha, certo é que não existe uma articulação entre as necessidades do país e a oferta formativa superior, em especial no ensino superior público, que deveria ter uma correlação direta e acompanhamento de políticas de desenvolvimento e criação de competências devidamente monitorizado Os cursos e as vagas são muitas vezes definidos em função dos interesses das universidades, das ordens profissionais, dos lóbis instalados ou dos próprios docentes e nunca por nunca em função das reais necessidades das entidades empregadoras, sejam elas públicas privadas e de qualquer sector de atividade económica.

Também me parece evidente que a empregabilidade não deve ser o único fator de avaliação do ensino superior, mas não deixa de ser um indicador muito relevante. O ensino dual – universitário e politécnico – existente em Portugal acaba por ser muito pouco diferenciador entre estes dois subsistemas. Ao primeiro, cabe adicionalmente o papel de “ensinar a pensar”, enquanto que, ao segundo, o papel de “saber fazer”. São dois conceitos que, quanto a mim, dificilmente se podem dissociar, e a partir do momento que ambos os subsistemas atribuem os mesmos graus académicos – licenciatura e mestrado – a diferenciação é nula até porque muitos cursos existem simultaneamente na oferta politécnica e na oferta universitária. Também muitos cursos, mais técnicos e tecnológicos, existem especialmente na oferta formativa das universidades. Em tempos passados, a diferenciação estava no grau obtido com a formação ­ os politécnicos não atribuíam grau de licenciatura, como aliás acontece ainda na generalidade dos países europeus, sendo cursos de índole claramente mais técnica e daí a sua diferenciação. Parece agora querer-se apostar nessa via através dos CTeSP, com a duração de dois anos e oferecidos em exclusivo no ensino superior politécnico e com uma vocação muitíssimo mais profissionalizante e adaptada às necessidades do país e, sobretudo da região de influência da escola.  

Urge de facto uma reorganização do ensino superior, de tipo de oferta e número de vagas, em função do país e não em função de interesses instalados, que acaba por não cumprir as necessidades e expectativas de empregadores e de estudantes.

 

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