23 Março, 2020
O título do presente artigo parte de duas leituras curiosas que tive oportunidade de fazer no Expresso de dia 14 de março. O jornal trazia, em duas partes distintas, uma menção à última palavra escrita por Camões nos Lusíadas, Inveja.
No caderno principal do Expresso, o jornalista Bernardo Mendonça, quando coloca uma questão sobre inveja no meio literário a João Tordo, afirma, “a inveja, que como sabemos é a última palavra de ‘Os Lusíadas’(…)”, obtém do escritor uma resposta que foge à menção de Camões[1]. Na revista do Expresso, como referi, curiosamente, vem o chefe de cozinha e empresário, Rui Paula, responder a uma questão sobre desconfiança com a já famosa menção à última palavra de ‘Os Lusíadas’[2]. Pois bem. Uma das coisas que isto de escrever ocasionalmente para um determinado público traz, é que passei a estar formatado a pensar e a dizer para mim mesmo: isto dava um artigo!
Fui pesquisar, pois lembrava-me de algo que já tinha lido há uns anos sobre a Inveja de ‘Os Lusíadas’ e lá encontrei, na magnífica internet, num outro magnífico órgão de comunicação social, o Diário de Notícias (que já não é diário, mas quererá voltar a ser), um artigo de Vasco de Graça Moura, de 2008, intitulado “A desnecessidade da inveja” em que afirma a sua completa discordância e em que a inveja surge como um sentimento normal. Enfim. Não é possível sequer pensar em escrever como Vasco de Graça Moura escrevia. É ler[3]. O título que dou a este livro decidi compô-lo com um termo criado pela ex-presidente da Assembleia da República, professora Assunção Esteves. Só porque gosto do que o mesmo representa.
E voltando à Inveja, este é o sentimento que, sendo considerado um dos sete pecados capitais (segundo Dante, cuja Divina Comédia foi também magnificamente traduzida por Vasco de Graça Moura, cada pecado corresponde a um círculo no Purgatório), pode ser visto como um fator de evolução, de inovação. Eu sinto a inveja não porque deseje mal ao outro, mas porque quero ser melhor que ele e se nessa luta, leal, eu me superar, supero o outro. É um processo que gosto de considerar o motor do desenvolvimento, da iniciativa do Homem, da vontade de criar e de nos eternizarmos como seres na memória das gentes futuras.
E porquê este tema? Pois, porque tudo se liga. Sou um defensor do empreendedorismo, seja ele em que condições se desenvolva e, neste sentido, posso-me considerar um Schumpteriano que defendia que o empreendedorismo tanto se pode efetivar na criação de um negócio ou de um novo modelo de produção, ou mesmo na descoberta de um recurso material que provoque uma disrupção, entre outros.
Pois aqui estamos, confinados aos nossos lares, em recolhimento e a querermos isolar-nos do bicho que destrói famílias. E sinto-me, hoje, empreendedor. Por estar a preparar aulas para ensinar alunos à distância. Por ver o esforço que os professores dos meus filhos estão a fazer para que eles não percam o comboio. Por ver o gosto dos meus filhos em perceber que há outras formas de fazer as coisas (nalguns casos que até lhes dão mais prazer). Perceber que estamos todos, e bem, a ser empreendedores.
E gostaria de finalizar, apesar de tudo, comme il faut, com um toque disruptivo e crítico. Quando vejo, para além dos professores, para além dos trabalhadores do comércio, da higiene urbana, das forças de segurança e tantos outros a cumprir, fora do seu lar, as suas responsabilidades, os trabalhadores dos serviços de saúde, sinto que falta tanto para que estes não tenham de estar subjugados a um trabalho sobre-humano. Gostaria que se percebesse que faz falta a possibilidade de mais se formarem em Portugal, em Medicina, em Enfermagem, em Auxiliares de Saúde, em Técnicos de Análises Clínicas, etc. e que à disponibilidade de um Estado em fazer um trabalho louvável, sobra a energia, que não é aproveitada, de um setor privado que quer e pode formar mais médicos e mais de outros profissionais, e que pode contribuir para a investigação e desenvolvimento, e que, por razões anódinas, que só posso considerar da esfera da Inveja (da má!) se veem limitados.
Assim, apelo a que façam um favor ao País e que as entidades tutelares do ensino superior deixem a Universidade Católica e outras instituições ver aprovados cursos nesta área e parem de não acreditar muitos dos que já existem. Basta ver o que em pouco tempo uma instituição como a Fundação Champalimaud conseguiu fazer. Temos competência, temos vontade, temos projeto, o investimento virá, pois queremos mais gente bem formada. Sejamos empreendedores.
[1] https://expresso.pt/podcasts/a-beleza-das-pequenas-coisas/2020-03-13-Joao-Tordo-E-um-bocadinho-ridiculo-pensar-que-levar-12-garrafas-de-gel-e-80-rolos-de-papel-higienico-para-casa-me-vai-libertar-da-doenca
[2] https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2472/html/revista-e/fisga/passeio-publico/rui-paula-os-cozinheiros-sao-um-bocadinho-invejosos
[3] https://www.dn.pt/arquivo/2008/a-desnecessidade-da-inveja-1127578.html.
Dr. Carlos Vieira, Professor no Instituto Superior de Gestão, para a LINK TO LEADERS
13 Março, 2020
Sustentada no exercício do poder executivo, do poder legislativo e do poder judicial, a sociedade procura a autorregulação de braço dado com o desenvolvimento económico (público e privado).
Assentes nos princípios morais e éticos que ultrapassam a letra das palavras e se concretizam em atos espontâneos e sinceros, assistimos à elevação da virtude (individual e coletiva) e à construção de uma sociedade mais justa.
Respeitando a lei particular e a lei geral, importa assegurar as diferenças daqueles que parecem semelhantes. A diversidade de pensamento é uma das maiores riquezas dos princípios. Ela constitui-se como uma armadura que resiste aos preconceitos e que assegura a igualdade de oportunidades.
A dialética social tem enfrentado críticas e evidenciado falhas no exercício do poder político, legislativo e judicial. Ainda que a cadeia de ligações esteja em constante aperfeiçoamento, só quando atenta ao pormenor podemos conquistar o coletivo. Descurar pormenores e detalhes é fragilizar princípios, é castrar oportunidades, é recusar a diferença, é condenar estratégias e políticas.
Acreditando que não existem donos da democracia e sem discorrer filosoficamente sobre os seus fundamentos, a utópica atribuição de exercício dos direitos políticos a todos os Homens poderia constituir-se no desiderato global.
Nas redes sociais, nas conversas de café, a crítica e o apontar de dedo tem como destinatários aqueles que ousam participar na gestão da “coisa pública”. Quais juízes ou comentadores televisivos. Eles são especialistas e detentores de conhecimento e opinião nas mais diversas áreas… Porém, se lhes propusermos participarem na construção de uma alternativa ao “sistema instituído”, se os desafiarmos à reflexão, à auscultação, a recetividade é nula.
Todos nascemos a chorar. Crescemos com mais ou menos alegria, com mais ou menos recursos. Adquirimos conhecimento com mais ou menos oportunidades, com mais ou menos dedicação. Aprendemos a ouvir com mais ou menos paciência, com mais ou menos interesse em conhecer o outro. Somos o que somos. Mesmo vivendo numa época em que a informação está disponível para a esmagadora maioria da população, a maior ignorância não advém da dúvida. A maior ignorância resulta da incapacidade de cada um de nós querer “fazer diferente”.
Regenerar a cidadania é um imperativo para todos aqueles que estão disponíveis para olhar para as partes, compreender as causas e avaliar os resultados. Devolver ao Homem a confiança no seu valor, responsabilizá-lo pelos seus deveres (individuais e coletivos), mostrar-lhe a importância do conhecimento, a relevância do respeito e a pureza da felicidade.
Sei que este imperativo não é passível de ser aprovado numa qualquer start-up, de ser transformado numa qualquer aplicação para smartphone, de ser transposto para uma qualquer música que invada o Youtube ou de ser incluído num programa político. Mas acredito que ele esteja direta e indiretamente presente nas ações de muitas pessoas que querem e fazem a diferença neste mundo tão “umbilical”…
João Caldeira Heitor é licenciado em Português/Inglês pelo Instituto Jean Piaget, tem um doutoramento em Turismo pela Universidade de Lisboa, é mestre em Educação e Administração Escolar pela Universidade de Évora e pós-graduado em Gestão de Bibliotecas Escolares, pelo Instituto Superior de Línguas Aplicadas.
Paralelamente é investigador colaborador do Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em Turismo (CiTUR Leiria). Além das diversas publicações efetuadas também é orador em vários congressos nacionais e internacionais. Ao longo do seu percurso profissional desenvolveu atividades de docência em diversas instituições de ensino superior. Atualmente é o secretário-geral do Instituto Superior de Gestão (ISG).
Professor Doutor João Caldeira Heitor, secretário-geral do ISG para o Link to Leaders
17 Janeiro, 2020
A mim anima-me sempre a perspetiva de poder empreender do ponto de vista profissional, institucional e pessoal, que apesar de parecer concetualmente díspar, pois abarca na sua génese três facetas diversas da minha vida, é na realidade impulsionada pela mesma vontade de fazer e de refazer.
Na realidade, o empreendedor é antes de mais uma pessoa e daí que, antes dos afazeres profissionais, haja a vida pessoal e é esta que orienta, através dos nossos valores e princípios, aquilo que queremos fazer em termos laborais. Aliás, atualmente, é unanimemente considerado que, antes de tudo, está a pessoa dotada dos seus direitos cívicos, consignados na Lei Fundamental e na Lei Substantiva.
Pelo que, é relevante termos sempre a consciência que somos o reflexo das nossas aprendizagens e competências adquiridas ao longo da vida.
Digo isto, porque quem empreende, nas diferentes áreas de atividade da economia nacional e transnacional, provoca mudanças, altera padrões de comportamento e é geralmente indutor de disrupções, sendo, por definição, disruptivo.
Daí que fazer e refazer seja uma característica de quem empreende, de quem assume o risco de voltar a fazer quando entende que há que começar de novo. No entanto, só haverá esta consciência se tiver havido ao longo da educação formal e informal um processo de vivência de experiências e de aquisição de comportamentos que levem o empreendedor a estar convicto da bondade de fazer e de refazer para conseguir alcançar o sucesso na implantação da sua ideia. E, caso haja necessidade de ser reformulada por haver por parte do mercado uma fraca adesão, consiga fazer isso sem perder a vontade e a determinação que esteve na origem da conceção do novo conceito.
O empreendedor é, igualmente, alguém que está permanentemente preocupado com as necessidades da sociedade e de como, através das respetivas ideias de negócio, pode contribuir para a melhoria das condições de vida dos cidadãos.
Por isso, é necessária uma atitude que incorpore a inovação, a criatividade e que seja em simultâneo transmissora da modernidade tão necessária ao avanço civilizacional que é imperioso estar incorporado em todos os novos conceitos.
Mas não é possível fazer tudo isto se ao longo da vida, ou melhor, na formação ao longo da vida, não tiver havido os inputs necessários à aquisição duma cultura educacional, científica e laboral que evidencie que falhar faz parte do processo criativo e que, por isso, fazer e refazer é a génese do empreendedorismo, pois só tem sucesso quem falha uma, duas ou as vezes que forem necessárias até alcançar o êxito, que nunca é definitivo, pois o empreendedor tem de acompanhar o processo de globalização, o que implica uma forte apetência para a adaptabilidade.
Por isso, formulo votos que nos próximos trezentos e sessenta e seis dias façam e refaçam as vezes que forem necessárias!
Leia o artigo na íntegra, por DrªTeresa Damásio, Administradora do Grupo Ensinus
16 Janeiro, 2020
Recomendamos a leitura do recente Artigo da Senhora Administradora do Grupo Ensinus, Dra. Teresa do Rosário Damásio, disponível na íntegra no Jornal de Negócios.
“Para lá do folclore, marchar, marchar
“Nos últimos tempos assistimos ao recrudescimento das preocupações com o ambiente, com uma jovem mulher (e muitas outras e outros com ela), Greta Thunberg de seu nome, no centro mediático, com tantos benefícios e também tantos riscos, sem que possa, demasiadas vezes, contar com a complacência da comunidade. Assistimos a análises de ilustres economistas que referem a crise associada às desigualdades. Sentimos um mimetismo com uma apatia que nos faz, tal qual um coelho ofuscado pelos faróis de um carro, ficar estáticos, por vezes perdidos e hipnotizados. E é por isso que escrevo este texto. Para lembrar que, além de tudo isto, como mulher, como herdeira de uma mãe que tanto me ensinou e que criou uma escola que hoje dirijo, que me ensinou a ler Simone de Beauvoir, que me apoiou quando assumi cargos em órgãos nacionais das mulheres socialistas, no partido que aqui repetidamente menciono, e como ex-deputada à Assembleia da República, entendo que devo exigir ao PS que apresente e genuinamente apoie uma mulher, candidata a Presidenta da República(2).”
Teresa Do Rosário Damásio | Administradora Grupo Ensinus para o JORNAL DE NEGÓCIOS
2 Janeiro, 2020
Esta semana, na Universidade de Coimbra, no GraPE 2019, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros identificou como principais problemas das empresas portuguesas a “descapitalização” e a “fraquíssima qualidade da gestão”.
A este propósito, afirmou ainda que o tecido industrial tem dificuldades em apostar na inovação e que os empresários não entendem a vantagem em contratar pós-graduados e doutorados.
As reações dos empresários, felizmente atentos, não tardaram, considerando francamente estranho que um governante passe este cartão de visita das empresas portuguesas, pois entendem que esta não será a melhor forma de captar investimento estrangeiro, que é uma das responsabilidades da diplomacia económica e do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A recuperação económica dos últimos anos e a criação de emprego desde 2014 deveu-se especialmente à dinâmica do tecido empresarial e à qualidade da gestão privada em Portugal, pois as nossas empresas são das mais inovadoras do mundo, apresentando patentes e soluções absolutamente originais que são depois replicadas noutros países da Europa e do mundo. Não só as empresas portuguesas como os trabalhadores portugueses, reconhecidos assim em todos os países do mundo. Inclusivamente, nas Web Summit, em Lisboa, foi destacada exatamente a capacidade de inovação dos empreendedores nacionais. Também nas últimas décadas são muitos os exemplos em praticamente todos os setores de atividade: lembro-me da criação da Via Verde, lembro-me do conceito dos produtos/serviços pré-pagos nas telecomunicações móveis, lembro-me do destaque da investigação de portugueses em laboratório nas ciências biomédicas, entre inúmeros desenvolvimentos científicos de criação portuguesa, que foram dignos de avultados financiamentos internacionais.
Num país como uma gestão pública crónica absolutamente medíocre é muito curioso que se critique a gestão privada das empresas que alimentam, juntamente com as famílias portuguesas, um Estado voraz com cerca de 5,2 milhões de euros por hora! São os contribuintes portugueses que financiam a baixa qualidade da gestão e da administração pública.
No que se refere à descapitalização, não será um problema absoluto e transversal a todas as empresas. Mas fica uma sugestão para os governantes e para a gestão (pública!!!) da CGD – sendo o maior banco português (e público!!!) porquê ter um comportamento de “seguidor” da banca comercial privada? Não deveria ter também um papel específico de banco de investimento e apoio ao tecido empresarial? Porquê optar também por uma enorme carteira de crédito à habitação?
Não é difícil ser gestor quando se depende de orçamentos de “dinheiro certo” dos outros e não se tem a necessidade de criar valor, nem preocupação séria com custos. São as empresas privadas que pagam IRC sobre os seus lucros e as famílias sobre o seu trabalho, para sustentar a gigante e ineficiente máquina pública, essa sim, incapaz de se reinventar e de ser proativa (sim, é um conceito de gestão) a nível de administração central e também local. A estratégia não existe. Os planos e o controlo não funcionam, a organização é caótica e a liderança é fraca (sim, são tarefas básicas de gestão).
Possivelmente capaz de chegar a um histórico Orçamento do Estado de défice zero em 2020, não por saber reduzir custos, mas por se servir de um “brutal aumento de impostos” que Vítor Gaspar desenhou e que “muito jeito tem feito” ao governo socialista, tanto que nunca o reverteu. De facto, como Margaret Tatcher disse, o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros…
Prof Doutor Miguel Varela, Director do ISG – Business& Economics School, para o Jornal de Negócios
29 Novembro, 2019
Independentemente da essencialidade e correlação imprescindível das várias etapas na realização de um planeamento estratégico, uma das mais relevantes é necessariamente a do diagnóstico.
Como nos explica Paris Roche, não é possível decidirmos até onde queremos ir se não sabemos onde nos encontramos. Ou seja, não podemos definir quaisquer finalidades sem sabermos se as mesmas serão efetivamente realistas ou se eventualmente teremos outras possibilidades mais condizentes com a nossa vocação (missão).
Assim é necessário, sem precipitações e pressas, refletir sobre a nossa situação real e o contexto onde nos encontramos envolvidos e só após domínio do meio envolvente é adequado percebermos o que pretenderemos fazer com provável segurança e sem pisarmos em areias movediças, que nos poderão bloquear sem sequer entendermos o porquê.
É pois capital, antes de estabelecer qualquer objetivo, analisar alguns fatores da própria entidade e do ambiente onde se encontra enquadrada, nomeadamente realizar um diagnóstico, ou se quisermos, um estudo para conhecer pormenorizadamente tudo que a abrange, isto é, uma investigação de cenário ou da conjuntura circundante.
Só deste modo se conseguirá aferir de forma integral quais as forças, pressões e situações que influenciam e condicionam o meio envolvente da entidade, para posteriormente se conseguir proceder a uma reflexão apropriada, antes de determinar as etapas seguintes sobre os fatores internos e externos que afetam ou poderão afetar a entidade.
Funciona, portanto, como um ponto de partida que nos possibilitará com sapiência identificar de maneira concreta os problemas, limitações e possibilidades para agora sim, com convição, começar a perceber as medidas mais corretas a desenvolver. Irá assim permitir estabelecer metas com confiança bem como desde logo as melhores alternativas, os meios ótimos para as conseguir alcançar, aumentando substancialmente esta probabilidade já que em princípio saberemos até onde será possível chegar e por onde não deveremos prosseguir.
O seu intuito é precisamente identificar com segurança as metas possíveis, em conformidade com o propósito da organização, a razão da sua existência e as condições internas que possui ou externas que com ela se relacionam.
Para Cardoso (1998), é um processo de recolha e tratamento de informação sobre o ambiente e a organização, que leva à tomada de decisões através das quais a instituição se adapta, modifica e atua sobre o contexto em que está inserida devendo esta sua análise, segundo Sancho (2004), encontrar-se envolta em duas perspetivas, a apreciação do presente e uma antevisão do futuro. pois só desta forma o planeamento poderá ser eficaz.
O processo de diagnóstico tem assim uma principal finalidade de reconhecimento de metas e modos ideais do pretendido e a concretização ótima destes, que só serão possíveis depois de se conhecer onde nos movimentamos, devendo a pesquisa incidir sobre uma visão global e não apenas sobre algumas áreas pois a falha poderá surgir do inesperado, avaliando interna e externamente os dados objetivos (estatísticos por exemplo) e subjetivos (opiniões, intenções, obstáculos, etc), não podendo nada ficar ao acaso.
Burriel (1994) e Pires (2007) entendem igualmente que é a partir do diagnóstico que se podem desencadear processos de tomada de decisão, sendo o conhecimento do meio envolvente a base sustentável para credibilizar as orientações de uma qualquer implementação de ideias. Irá por isso impedir que se perca tempo com políticas que à partida já se encontrariam condenadas por desajustamento, com até intenções teoricamente bastante bem elaboradas, mas que verdadeiramente não possuiriam nenhum efeito.
O diagnóstico para ser completo deverá abordar sempre a universalidade da entidade e do meio onde se encontra inserida e não apenas frações, mesmo que o propósito final incida eventualmente sobre alguns departamentos e como já visto, baseada tanto em dados objetivos como subjetivos, que se complementarão entre si com realce prioritariamente para as áreas chave.
Como parâmetros primordiais a observar a nível externo, temos desde logo o pressuposto sociológico, onde se inclui a demografia e a área geográfica, as modas, a economia doméstica, os modos habituais de vida ou a consciência dos cidadãos, o marco normativo ou jurídico nomeadamente a legislação aplicável, com maior ou menor regulação e o político, onde se realça a correspondente estabilidade do poder político, maior ou menor intervenção, subsídios ou outros apoios concedidos, bem como as principais políticas desenvolvidas.
Mas numa sociedade de cariz democrático, baseada em liberdade e numa economia de mercado, não nos podemos nunca esquecer da concorrência (oferta), do modo que como se encontra organizada ou como funciona nem da procura, ou seja dos nossos potenciais utentes.
Caso por exemplo ofereçamos automóveis, deveremos perceber quem são as marcas que se encontram neste nosso mercado, de que quota usufruem, como disponibilizam o bem ou serviços acoplados e se há movimento de outros potenciais concorrentes, como bons transportes públicos. Mas identicamente, perceber se os possíveis consumidores pretenderão eventualmente possuir interesse em viaturas com as características disponibilizadas por nós.
Já num grau interno ocupam mais importância os recursos humanos, onde se incluem não só os diretores e trabalhadores como ainda todos os restantes colaboradores (prestadores de serviços ou voluntários, entre outros), os recursos financeiros diretos como receitas próprias, mas igualmente a capacidade de crédito, possíveis doações ou outros meios orçamentais e os recursos materiais, relacionados com espaços, infra-estruturas ou equipamentos.
Bem como a perceção da satisfação dos utentes, na prática, a vontade de utilização por parte dos nossos consumidores e a estrutura organizativa, caso dos procedimentos administrativos (mais ou menos burocracia), autonomia possuída (ou não) e respetivas competências/atribuições.
Ora, só depois deste trabalho efetuado poderemos ponderar nas nossas intenções visto que, agora sim, conheceremos a realidade, os nossos recursos, possibilidades e nestes termos, o que será possível atingir.
Dispomos todavia de várias metodologias para o fazer mas a mais indicada é sem dúvida a denominada análise SWOT (strengths, weaknesses, opportunities, threats) ou em português, DAFO (OU FOFA).
Este processo permite-nos de modo completo identificar todos os conteúdos que nos abrangem ou poderão abranger, externos e internos, tanto no presente como no futuro e de forma positiva ou negativa já que nos apresenta os pontos fracos no presente (Debilidades), o que nos poderá suceder de errado no futuro (Ameaças), os pontos fortes na atualidade (Forças) e ainda o que nos poderá beneficiar ulteriormente (Oportunidades).
Será só a partir daqui que se poderá avançar com determinação para a fixação de metas e seleção das melhores opções, através do reforço dos pontos fortes, atenuação progressiva dos pontos fracos, aproveitamento das oportunidades e eliminação das ameaças.
Dr. Miguel Furtado, docente no ISG, para o LINK TO LEADERS