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Líderes e gestores

Líderes e gestores

Com alguma frequência ouvimos a referência a líderes e gestores de forma totalmente indiferenciada. Gestores são chamados de líderes, líderes são chamados de gestores, afinal qual é a diferença?

Na literatura científica da especialidade o debate entre liderança e gestão está longe de ser consensual. De facto as opiniões divergem sendo muitas vezes totalmente opostas, totalmente contraditórias.

Diversas classificações distinguem líderes e gestores enumerando características que são praticamente opostas, quase nos fazendo lembrar uma lista de antónimos: o líder mais emocional, o gestor mais cerebral; o líder mais criativo, o gestor mais convencional; o líder mais visionário, o gestor mais eficiente; o líder mais relacional, o gestor mais procedimental (Kets de Vries & Konstantin, 2011). Na essência, a distinção de base é a de que os líderes criam significados e os gestores planeiam e analisam objetivamente a realidade.

Que a liderança e a gestão são funções distintas parece não haver dúvidas, que ambos são determinantes para o sucesso das organizações também não. O que parece que claramente não é consensual, quer ao nível da investigação quer ao nível da prática, é se estas duas funções – liderança e gestão – poderão ser conciliadas numa mesma pessoa, ou seja: será possível que um mesmo indivíduo desempenhe com eficácia e sucesso as funções de líder e gestor? Efetivamente, relativamente a esta questão, as opiniões divergem, existindo uma grande e acesa contradição entre os especialistas.

De acordo com alguns autores (Zaleznik 2004, Kotter 1999) os papéis de líder e gestor são totalmente inconciliáveis numa mesma pessoa, ou seja, um mesmo indivíduo não poderá liderar e gerir em simultâneo com eficácia. Num extraordinário artigo denominado “Managers and Leaders are they different?”, republicado no The Best of Harvard, Zaleznik (2004) refere-se aos líderes e gestores nos seguintes termos: “Business leaders have much more in common with artists than they do with managers. Managers and leaders are two different animals. Leaders, like artists, tolerate chaos and lack of structure. They keep answers in suspense, preventing premature closure on important issues. Managers seek order, control, and rapid resolution of problems”.

No outro extremo do debate, Rowe (2011), defende que é possível conciliar com sucesso, numa mesma pessoa, a função de líder e gestor, na figura que designa pelo líder estratégico. O líder estratégico consegue combinar as duas orientações, conciliando as qualidades/caraterísticas do gestor com as do líder.

Apesar de Zaleznic na forma eloquente como fundamenta as suas convicções nos cativar, sabemos que se refletirmos um pouco sobre o que se passa na prática das empresas, conhecemos casos de indivíduos que desempenham com admirável competência o papel de líder e gestor.

O que acontece, na minha opinião, é que se trata de um perfil que por ser, em termos psicológicos, tão completo, é extremamente raro. Estes indivíduos são preciosos para as organizações, pelo que as empresas que os têm não os querem perder sendo extremamente valorizados e disputados.

* Leonor Almeida, professora associada, coordenadora do Mestrado em Gestão do Potencial Humano do ISG.

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Referências
Kets de Vries, M & Konstantin, K. (Ed). (2011). Leadership Development. London, UK: Edward Elgar.
Kotter, J. (1999). What leaders really do? Boston, MA: Harvard Business School Press.
Rowe, W & Guerrero, L. (2011). Cases in Leadership. Thousand Oaks, Calif: Sage Publications.
Zaleznik, A.(2004). Managers and Leaders: Are They Different? Harvard Business Review,1, 47-69.

PEC vs. WEO: “Previsivelmente” boas notícias até 2020

PEC vs. WEO: “Previsivelmente” boas notícias até 2020

A economia é uma ciência social cada vez menos previsível, pois grande parte das variáveis que influenciam o crescimento económico dificilmente são matematizáveis.

Durante esta semana, no World Economic Outlook (WEO), o FMI estimou um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional de 2,4% para 2018, acima da previsão do Governo que é de 2,3% de acordo com o Programa de Estabilidade e Crescimento 2018/2022. Em termos de tendência, nesse mesmo documento, o Governo estima um crescimento constante anual de 2,3% até 2020, abrandando o ritmo para 2,2% e 2,1% em 2021 e 2022. O FMI, por sua vez, anuncia um abrandamento da economia portuguesa já a partir de 2019, crescendo abaixo dos 2%.

A economia é uma ciência social cada vez menos previsível, pois grande parte das variáveis que influenciam o crescimento económico dificilmente são matematizáveis, como o progresso tecnológico, a cultura, a legislação, a decisão política ou a moda e os gostos dos consumidores. A este problema acresce o facto de o mundo estar em cada vez maior e acelerado ritmo de mudança dos seus sistemas sociais e económicos. Muitas vezes as previsões falham a três e seis meses sendo mais passíveis de errar quanto maior o horizonte temporal das mesmas.

Ainda assim, são boas notícias os valores previsíveis de crescimento económico anunciados em qualquer dos cenários, do Governo ou do FMI, e como muitas das decisões económicas dos diversos agentes são baseadas em expectativas, o futuro próximo deverá continuar a trazer boas notícias.

A maior divergência de previsões é relativamente ao saldo da balança corrente em que o FMI estima um superavit de 0,2% do PIB em 2018 e um défice de 0,1% do PIB em 2019. O Governo apresenta previsões bem diferentes e sempre com excedente: 0,7% do PIB em 2018, 2019 e 2020.

Também ao nível do desemprego em Portugal, o FMI estima que se situe nos 6,7%, já em 2019 e 7,3% até final deste ano. Na análise deste indicador, o Governo não é tão otimista, prevendo que a taxa de desemprego se fixe em 7,6% em 2018, 7,2% em 2019, 6,8% em 2020, 6,5% em 2021 e 6,3% em 2022.

Em qualquer dos cenários previstos pelo PEC ou pelo WEO, teremos “previsivelmente” bons desempenhos até 2020. A conjuntura é favorável no médio prazo. Será uma boa altura para continuar a controlar a inflação e proceder a adaptações estruturais. Vamos ver os “gap” que nos irá trazer a realidade em relação às previsões.

Diretor do ISG

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

Artigo publicado a 19/04/2017 em Jornal de Negócios

Os modelos de negócio não são ficções no papel …

Os modelos de negócio não são ficções no papel …

No atual contexto competitivo, em rápida e profunda mudança, a palavra empreendedorismo tem vindo a ganhar uma crescente importância, traduzindo uma nova forma de pensar e de fazer acontecer.

Na verdade, o empreendedorismo, através da capacidade de inovação revelada, da competitividade gerada e da contribuição para a criação de emprego, tem assumido, cada vez mais, um papel determinante no dinamismo da economia nacional.

Contudo, apesar do grande entusiasmo existente, o grau de sobrevivência das start-ups é relativamente pequeno. Um estudo da Dun & Bradstreet (O empreendedorismo em Portugal, 3.ª edição, Maio de 2017) revela que “a taxa de sobrevivência decresce mais acentuadamente nos primeiros anos de vida: cerca de dois terços das empresas sobrevivem no primeiro ano de atividade, mais de metade (53%) ultrapassam o 3.º ano e 42% atingem a idade adulta. No oitavo ano de atividade, apenas um terço das empresas mantém atividade”.

É verdade que no mundo empreendedor o falhanço é visto como uma mera etapa no processo. Mas, em Portugal e em muitos dos países europeus, ainda é traumático falar sobre as empresas que acabaram por não funcionar.

“O falhanço acontece e acontece frequentemente”. Um estudo recente da CB Insights (2018.02.02) revela que as três principais razões do falhanço são: (i) a falta de resposta às necessidades do mercado (42%); (ii) dificuldade de financiamento (29%); e, (iii) falta de equipa adequada (23%).

Assim, a principal razão do falhanço é a adequação dos projetos às reais necessidade do mercado, isto é, a identificação do problema e a validação do modelo de negócios.

A validação de um modelo de negócios (descrito através do Canvas), processo muitas vezes subvalorizado pelos empreendedores, é, pois, uma das fases mais importantes na criação de uma empresa. Testando hipóteses simples, os empreendedores vão-se apercebendo do funcionamento do mercado real, eliminando opções não validadas, mantendo opções validadas e acrescentando opções descobertas. Este processo de validação deverá durar até que o empreendedor se sinta confortável com a solução inovadora que pretende introduzir no mercado. Caso isso não aconteça, deverá abandonar essa solução (ideia de negócio) e partir para a identificação de outros problemas e soluções para os resolver. Na verdade, até à fase de validação, os investimentos ainda foram poucos.

No processo de validação, os empreendedores vão “descobrindo clientes” e a “tração dos projetos”, elementos essenciais para a negociação do futuro financiamento.

Na verdade, os modelos de negócio não são ficções no papel e devem ser suportados por factos, “acontecidos” não nos gabinetes mas na rua, local onde estão os futuros clientes, os futuros concorrentes, os futuros fornecedores, os futuros financiadores, isto é, as oportunidades de negócio.

Empreender no sucesso

Empreender no sucesso

Empreender no sucesso é para muitos uma afirmação axiomática pois para a maioria das pessoas o sucesso é uma condição sine qua non do empreendedor.

No arquétipo coletivo ter sucesso é ser popular, ter muito dinheiro e, consequentemente, possuir muitos bens materiais. Para a construção desta imagem muito tem contribuído a comunicação social que replica de forma incomensurável o conceito do dinheiro associado ao sucesso. Via-se o empreendedor como alguém puramente preocupado com a solvabilidade da empresa e com o lucro e crescimento da mesma.

No entanto, ao longo dos últimos anos houve uma evolução dogmática muito interessante acerca do conceito de empreendedor e do seu papel na sociedade atual. Este desenvolvimento conceptual assenta numa nova visão que se quer para o mundo em geral e para as pessoas singulares e coletivas em particular.

Se na última década do século XX a vox populi assentava na geração de capital como uma das grandes necessidades da humanidade e aos empreendedores era dado o ónus de serem um dos principais geradores dessa riqueza, hoje na segunda década do século XXI as preocupações globais assentam no desenvolvimento sustentável e na massificação dos direitos sociais.

Aprendemos que para sermos felizes precisamos de muitos mais do que dinheiro e riqueza material. Deparámo-nos com a necessidade de ter sociedades justas e equitativas.

Contrariamente ao que se poderia pensar, mercê da crise que vivemos nas últimas décadas e do empobrecimento generalizado, continua a fazer sentido [1] empreender no sucesso.

A sociedade continua a precisar de ter empreendedores e de estimular práticas empreendedoras. Hoje, é comummente aceite que o empreendedorismo faça parte dos currículos escolares, pois percebeu-se que é essencial estimular a criatividade e a inovação junto das nossas crianças, adolescentes e jovens. O empreendedor continua a merecer o apreço e o estímulo da comunidade pois as suas práticas perpetuam a generosidade e a gratidão que é hoje tida como uma das características do empreendedor do século XXI que empreende no sucesso.

Hoje, nas escolas e nas universidades continua-se a perseguir o sucesso. No entanto, quando analisamos a forma como estas competências são adquiridas, percebemos que os direitos cívicos são transversais e que para se ser empreendedor há que ser bom cidadão tal qual o que habitava na Polis. A diferença é que a Polis hoje é para todas e para todos. Não há excluídos. Antes pelo contrário, a diversidade é bem vista e premiada.

A Humanidade vive um momento na sua história em que faz todo o sentido empreender no sucesso. De forma sustentável, solidária e igual.

A sociedade continua a precisar de empreendedores e continua a precisar de pessoas que têm sucesso! Para se desenvolver e gerar bem-estar para todas e para todos é fulcral que se continue a empreender no sucesso!
Vamos a isso!

[1] Hoje mais do que nunca

Educar para a tolerância

Educar para a tolerância

O legado de Martin Luther King Jr. pode ser transposto para múltiplas dimensões e vivido de forma diferenciada consoante a visão que tenhamos para o mundo e os meios que utilizemos para o mudar.

Uma das formas mais poderosas de promover a transformação na sociedade é através da educação e aprender com os valores de Martin Luther King Jr. é fazê-lo através da transmissão da tolerância e da assunção dos direitos cívicos.

Celebramos os cinquenta anos do seu assassinato em Memphis, Tennessee. Nos últimos dias muito se tem falado a propósito do facto de o assassino ter estado dez dias em Portugal, após ter cometido o homicídio e de como as autoridades policiais do Estado Novo mantiveram durante esse tempo o registo da sua permanência em território nacional. Portugal vivia à época num regime ditatorial no qual os direitos humanos eram fortemente limitados e onde pessoas como Martin Luther King Jr. certamente seriam perseguidas pela PIDE.

No Portugal contemporâneo assistimos a uma rápida alteração do sistema educativo em que há uma orientação legal e institucional para se enquadrar a cidadania. Para isso, tem-se vindo a vivenciar novos modelos quer no domínio do ensino quer no âmbito da investigação.

Para podermos ter um novo paradigma na educação em Portugal temos de deixar os nossos alunos e os nossos professores experimentarem, pois, o nosso cérebro só aprende por intermédio da vivência, da experimentação. Para podermos ter uma educação para a cidadania temos de ser capazes de a trazer para dentro da sala de aula. Tal será possível se seguirmos o conselho de Martin Luther King Jr.: “The function of education is to teach one to think intensively and to think critically. Intelligence plus character – that is the goal of true education.”

Dotar os alunos das competências adequadas que lhe permitam criar o problema e encontrar a solução. Assumir o trabalho em equipa como uma das ferramentas essenciais com vista ao sucesso escolar. Tornar a sala de aula um espaço de partilha de vivências em que deve haver a oportunidade de se formularem perguntas variadas que conduzam a respostas diferenciadoras e com isso levar alunos e professores a respeitarem as opiniões contrárias.

Educar para a tolerância num momento em que tanto precisamos de diálogo e de concertação é uma das melhores formas de colocar a herança de Martin Luther King Jr. a ser vivida todos os dias na nossa escola!

Administradora do ISG | Instituto Superior de Gestão e do Grupo Ensinus

Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

Artigo publicado a 05/04/2018 no Jornal de Negócios

A educação e os dias de hoje

A educação e os dias de hoje

A atualidade oferece-nos desafios dificilmente sonhados há anos. Nem os mais visionários seriam capazes de entender aquilo que aguarda os estudantes dos dias de hoje.

Quem aprende Direito sabe que a norma jurídica evolui ao ritmo da evolução da sociedade e que as respetivas previsão e estatuição têm de acolher o apreço da comunidade para que a sanção continue a ter um caráter excecional, mas seja possível a sua cabal utilização em caso de violação da mesma.

Da mesma forma, a educação acompanha e reflete as principais preocupações da sociedade em constante mudança!

Vem isto a propósito da celebração do Dia Nacional do Estudante, no passado dia 24, em que celebrámos a data da promulgação em 1987 desta importante efeméride. Naturalmente, o espírito do legislador levou-nos para os momentos vividos na década de 60, do século XX, em que homenageámos todos aqueles que se rebelaram contra a ditadura.

Volvidas várias décadas importa refletir aquilo que se espera do estudante na atualidade, independentemente do nível de ensino.

A atualidade oferece-nos desafios dificilmente sonhados há anos. Nem os mais visionários seriam capazes de entender aquilo que aguarda os estudantes dos dias de hoje.

A começar pela globalização e pelo conceito de competências globais em que se torna essencial que todas e todos sejam munidos das aprendizagens úteis à conquista dum espaço em constante mudança, passando pela incerteza dos empregos futuros em que por maiores que sejam as qualificações apreendidas nunca ninguém estará suficientemente preparado para o amanhã, terminando na procura incessante de mais e melhor conhecimento, o que torna em obsessivo a alteração do paradigma da educação e das consequentes mudanças legislativas e conceptuais numa busca incessante pelo ensino perfeito.

Celebrar o Dia Nacional do Estudante implica celebrar a resistência, a resiliência e o dar voz ao âmago das preocupações das nossas alunas e dos nossos alunos. Se deixarmos de ter estudantes reivindicativos, deixamos de ter liberdade de expressão e de criação intelectual e aquilo que pretendemos é que das nossas escolas e universidades brotem ideias e novas visões de ver o mundo.

Agrilhoar o processo educativo num conjunto de normas e preceitos a cumprir deixa de lado a autonomia intelectual e a liberdade.

Portugal tem assistido, num passado bem recente, a alterações legislativas e a mudanças conceptuais que pretendem terminar com velhos dogmas. Desde a introdução do projeto-piloto da Autonomia e da Flexibilidade Curricular, introduzida no ano escolar de 2017-2018 através do Despacho n.º 5908/2017, de 5 de julho, até às recentes reformas no ensino superior, aprovadas no Conselho de Ministros da semana passada, no qual se incluíram medidas que visam agilizar a atribuição do grau de doutoramento e que vão ao encontro da recomendação, que já constava do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que avaliou Portugal, a pedido do Governo, que concluiu que havia doutores em número insuficiente. Além destas alterações nos doutoramentos, o Governo português tem, igualmente, como objetivo que até 2030 estejam no ensino superior 60% dos jovens de 20 anos e 50% dos jovens entre os 30 e os 40 anos. Isto porque continua a ser muito preocupante o nível de abandono escolar nos estudantes do secundário como revela o último estudo da Pordata, que conclui que em 2017 havia 12,6 % de abandono precoce na escolaridade obrigatória.

Conclui-se por isso que hoje, tal como há 30 anos, continua a ser da maior relevância celebrar o Dia Nacional do Estudante e adequar as respostas aos desafios urgentes e emergentes!

Administradora do ISG | Instituto Superior de Gestão e do Grupo Ensinus

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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